9 de maio de 2014

Desmelodia

Silêncio, meu amor.
Não cantemos mais as bossas
Não cantemos mais as novas.
Falemos baixinho pra poder ouvir
O que resta da gente.

Quietos.
Silenciemos em respeito
A esse amor moribundo,
Cubramos as cores
Para que venham os tons de cinza.

Que comece a melodia
Da pausa de mil compassos.

22 de novembro de 2013

Não, obrigado



Meia hora, meio dia
meia lua
meia luz
meia vida.
Só nunca meia companhia.

Meio termo, meio campo
meio cheio
meio vazio
meio ambiente.
Só não me venha com meios carinhos.

Meias verdades
meio disfarçadas
no meio de palavras doces.
Cartas de amor pedidas
na gaveta de meias.

Deve haver um meio
de não haver meio.
De ser pleno,
inteiro.
No meio disso tudo.





7 de agosto de 2013

Incertezas certas


Ficamos nós na espreita
na borda de um amor
que quase acontece,
que quase ama.

Ficamos entre
o vinho branco e o tinto,
entre a rosa e o espinho,
entre o teu amor e o meu caminho.

Entre esquerda e direita,
sai tu pela tangente.
Entre isso e aquilo,
nada. Absolutamente.

Entre o meu saber
se te amo ou não,
eu fico com a certeza
de que não me amo.


2 de agosto de 2013

A falta que nada faz



Eu acho sonho
que sinto
que sei.
Mas no fundo é nada.
Um nada completo de tudo,
assim como nuvem
que se passa por algodão.

Os ponteiros giram às avessas,
o tempo passa voltando
naqueles lugares escuros e claros
de um passado colorido,
no qual nossas formas disformes
encaixaram-se.

O tempo acelera
e freamos freneticamente:
é frívolo!
A colisão é inevitável.
O que há de ser dos nossos destroços?

Ah, como quisera eu
ter-te dito tudo que me engasga,
tudo aquilo que furtei-me de dizer,
por medo de me equivocar
na morfologia e na sintaxe.
Ter-te lançado todos os objetos,
diretos e indiretos.

Eu acho que esse nada,
no fundo, é tudo que sinto e sei.
Só não mais sei
se sonhei.


9 de julho de 2013

Apenas mais um de amor

Eu sou desses que vira e mexe se pega pensando no amor.
Que duvida do amor.
Que busca o amor.
Que vive o amor.
É tão estranho eu poder fazer tantas coisas com ele,
mas se me pedissem que o definisse
não tardaria a esbanjar minha falta de palavras.
O amor, digo a ideia de amor, surge do nada
(será que o amor mora no nada?)
vem no caminho da padaria,
na corrida de fim de tarde,
na antessala do dentista.
Nem aqueles mosquitinhos que aparecem aos montes durante o verão
conseguem nos desassossegar tanto como esse talzinho.
Eu poderia contar os dias da minha vida pelas minhas ideias sobre ele.
Entre o tirar e pôr a cabeça no travesseiro sempre vem aquela voz:
"as definições de amor foram atualizadas."
O amor tem muito do achismo;
a gente vive achando que é amor mas no fundo...
(seria o não amor?)
Tem muito de cilada, de encrenca, muito de pulga
atrás da orelha, do braço, da perna, do miocárdio.
Eu acho que...
Bem, veja eu achando mais algo sobre ele.
Chega de achar.
Vou ali amar um pouquinho e já volto.

4 de julho de 2013

Apenas mais uma inconstância cotidiana

As coisas na vida da gente
são mais simples do que parecem.
Ou elas acontecem
ou não acontecem.

Mas o que tira o sono nosso
é o interlúdio,
o que acontece e não acontece
entre o acontecer e não acontecer.

A vida é feito caixa de expectativa.
Tanto já ouvi: viva como se não houvesse o amanhã!
Mas é que vieram tantos amanhãs!
Todo hoje tem tido seu amanhã,
e todo amanhã o seu depois de amanhã...

As vezes me parece que esqueceram do ponto final,
e no livro que a gente escreve a vida
as páginas são infinitas.

20 de junho de 2013

Eu-desperto



Vem o tempo e fere a fúria
da mansidão dos sentimentos. 
Vem de súbito, no repente, 
nesses instantes, frações de eternidade. 

Da noite pro dia
são tantas as estrelas que escurecem, 
toda a lua que se esquece, 
ocidente-oriente. 
Espera-se o sol. 
Mas volta e meia vem ele
todo anuviado. 

Flagrado fui pela fragrante flor
do medo,
a rosa negra do nosso jardim 
em chamas. 

Não sei-me, 
Desaprendi-me. 
Perdi-me no encontro, 
encontro-me na despedida. 

Eu que o tempo engana
que fere
que cura.